deixamos pistas de nós mesmos por toda parte
é normal se sentir perdido, você nunca foi essa versão de você mesmo
Deixamos pistas de nós mesmos por toda parte. Pequenos rastros espalhados entre o que somos e o que almejamos ser. Mas quem pode decifrar um mapa que nunca viu antes? Somos, todos nós, novatos em nós mesmos.
"Gênio é a pessoa que se tornou quem é", dizia Thelonious Monk. E como é possível se tornar quem se é sem se perder de si mesmo? Talvez o segredo esteja aí: na aceitação da confusão, na beleza do desalinho, no caos da transformação. Ser perdido é a marca de quem está se encontrando.
Eu me pergunto, como equilibrar o peso de existir com a leveza de simplesmente ser? O mundo exige muito de mim, mas quem sou eu para exigir menos de mim mesma? O maior favor que posso me fazer é não mentir para mim. Nomear minhas angústias, apontar meus medos. Talvez seja isso que significa ser humano: caminhar entre o vazio e a completude, um passo de cada vez, sem pressa para chegar.
Minha alma tenta se ouvir, e às vezes tudo o que ela encontra é um silêncio insistente. Outras vezes, é um grito abafado pelo medo de errar. Mas o erro também é um caminho — ele me lembra que eu não fui feita para a perfeição. Fui feita para o processo, para a arte de descobrir, para o deslumbre de criar.
Percebo que há uma energia minha que me antecede, algo que carrego antes mesmo de saber nomear. Talvez seja isso o que chamam de alma, ou apenas o eco do universo em mim. O universo que, desde sempre, me dá dicas do que vim fazer aqui. Sou um compilado de inclinações, paixões e desejos que não escolhi, mas que escolhem a mim a cada instante
.
Eu sinto o universo como um pulsar constante dentro de mim. Ele não está apenas lá fora, espalhado pelas estrelas e pela imensidão azul do céu; ele vibra aqui dentro, nas minhas escolhas, nos meus tropeços, na forma como me levanto. Às vezes, sinto que ele fala comigo através dos pequenos detalhes — o calor do sol tocando minha pele, o som da chuva caindo suavemente, ou até mesmo o silêncio das noites mais escuras. Ele me lembra que sou parte de algo maior, algo que não pede nada em troca, mas que oferece tudo.
E é normal se sentir perdido. Você nunca foi essa versão de você mesmo. Hoje, sou uma obra inacabada, um rascunho escrito em folhas que o vento insiste em virar antes do tempo. Mas sinto que há beleza nisso. Afinal, o mar vai e volta, e eu também. Não é suficiente que ele esteja? Não é suficiente que eu esteja?
Eu acredito que o universo tem um plano, mas ele é feito de liberdade. Como se cada escolha minha fosse um pequeno desvio em um rio que, no fim, sempre encontra o mar. Não importa o quão perdida eu me sinta, o universo me puxa de volta, com sua gravidade invisível, para aquilo que é meu por direito. Eu sei que o que é para ser meu já está vindo, porque o universo não erra. Ele orquestra, ele espera, ele responde às minhas intenções. E o maior ato de confiança é entregar, deixar ir, sabendo que tudo o que é essencial encontra seu caminho de volta.
Se perder faz parte do processo de se tornar. Criar e destruir, criar e destruir. A cada ciclo, sou um pouco mais quem vim ser no mundo. Me encontrar não é um destino, mas um ato contínuo de existir. O universo me lembra disso o tempo todo. E isso basta. Isso é tudo.
Sou nova por aqui, vim por pura curiosidade, mas que bom que vim.
A sua escrita é linda! Ela me fez sentir todos os sentimentos, a medida que lia cada trecho do seu texto. Obrigada por plantar essa semente em mim novamente! A nossa autenticidade vem do não temer conhecer nós mesmas.
Que texto lindo e necessário! Gostei muito! Sua escrita é impecável!