É curioso como foi só colocando em palavras aqui, o que eu sinto sobre esses filmes, que eu percebi, com suas histórias diferentes e cenários únicos, eles falam a mesma língua. Uma língua silenciosa, que não exige grandes gestos, mas que me ensinou a importância de viver no agora, sem as amarras da expectativa de que algo dure para sempre. E isso me fez perceber que talvez eu tenha um gosto bem definido sobre filmes, algo que eu não tinha visto dessa forma ainda, o quanto eu sou fascinada pelo simples fato de viver o presente. Afinal, talvez o que torna cada momento tão especial seja exatamente o fato de que ele é passageiro. Eles me mostraram, de maneiras distintas, que a beleza está na aceitação do presente, em saber que o que é real e verdadeiro se encontra, muitas vezes, naquilo que se vai, deixando a sensação de que, no fim, tudo que é essencial permanece dentro de nós.
Lost In Translation
Preciso começar falando do meu favorito da Sofia Coppola — que eu sou completamente obcecada. Amo como ela retrata a solidão em Lost in Translation não de uma forma pesada, mas como um território imenso, um vazio que ecoa. É como se Bob e Charlotte fossem duas ilhas flutuando em um mar de estranhamento. Ele, perdido em um lugar onde tudo parece tão diferente quanto indiferente. Ela, em busca de algo que faça sentido, mas sem saber bem o quê. Eles se encontram nesse espaço suspenso — onde ninguém precisa preencher o silêncio porque o silêncio já diz tudo.
Não há pressa, não há grandes gestos. Apenas pequenos instantes que se tornam gigantescos porque são reais. Cada olhar, cada sorriso discreto, cada conversa ao acaso transforma-se em uma espécie de cura. Não é sobre amor romântico, nem sobre desejo, mas sobre a rara conexão que surge quando duas pessoas se permitem apenas existir juntas, sem exigências.
Eles não tentam definir o que sentem, não se esforçam para transformar aquilo em algo maior ou mais duradouro. E essa falta de exigências é o que torna tudo tão especial. Eles se bastam nos gestos sutis: um olhar demorado, uma piada murmurada, a forma como dividem a paisagem luminosa de Tokyo, mas que não os absorve. Não há promessas, nem a necessidade de um futuro. É apenas um agora, e isso é mais do que suficiente.
Tokyo, ao redor deles, é um personagem à parte. Um lugar que brilha e pulsa, mas também sufoca. É um espelho do que eles sentem: perdidos, deslocados, como se fossem estranhos em suas próprias vidas. E, ainda assim, essa cidade estranha é onde eles se entendem. É curioso como, no meio de toda aquela agitação, eles encontram a calma um no outro.
A beleza do filme está nessa aceitação da transitoriedade. Bob e Charlotte não são personagens destinados a durar; são um encontro, não um destino. E o filme nos lembra que as coisas mais preciosas muitas vezes são as que passam por nós como uma brisa fugaz, mas inesquecível. Não é o "para sempre" que dá valor a algo, mas o fato de existir por um breve momento, cheio de verdade.
No fim, o que Bob sussurra ao ouvido de Charlotte não importa. O que importa é o gesto, a despedida que não dói porque não carrega a angústia de querer mais. Eles viveram o que tinham para viver, e isso basta. Algumas coisas não precisam durar para sempre para serem inesquecíveis. Às vezes, é justamente a brevidade que dá sentido, como um vislumbre que te marca para sempre, mesmo quando se vai.
Eternal sunshine of the spotless mind
Brilho Eterno de uma Mente sem Lembranças não é só um filme para mim. Além de ser meu top 1, é um pedaço da minha alma, algo que eu carrego tão profundamente que às vezes sinto que ele vive dentro de mim. Toda vez que eu assisto, parece que estou voltando para um lugar que já conheço, mas que ainda consegue me surpreender, me despedaçar e me reconstruir de novo.
Se eu pudesse, apagaria esse filme da minha memória só pra poder sentir de novo o que senti vendo ele pela primeira vez. Só para sentir aquele nó na garganta quando Joel e Clementine se encontram pela primeira vez — ou será pela última? — e a vida deles começa a desmoronar enquanto tentam segurá-la com tanta força. É quase como um reflexo de todas as vezes em que eu tentei agarrar algo que estava escapando.
Eu me vejo em Joel, com seu silêncio que guarda tanto. Me vejo em Clementine, com seu caos colorido e sua urgência de ser. Eles me lembram que somos todos uma soma de partes que nem sempre fazem sentido, mas que, de alguma forma, se completam quando amamos alguém. Amar é assim, um ato de coragem e vulnerabilidade, uma entrega que nunca sabemos se vai durar. E o filme me mostrou que tudo bem se não durar.
Enquanto Joel tenta apagar Clementine, eu sinto que estou perdendo algo também. Cada memória que desaparece é um pedaço de amor, um pedaço de dor, um pedaço da vida. E é isso que mais dói: perceber que, mesmo nos momentos mais difíceis, há beleza. Que mesmo quando o amor machuca, ele ainda vale a pena.
Há uma cena que sempre fica comigo: o último encontro na praia, onde eles sabem que tudo está prestes a acabar. “Meet me in Montauk”, ela diz, e essas palavras ficam ecoando em mim como uma prece. É uma promessa silenciosa de que, mesmo quando tudo desmorona, o que é real encontra um jeito de voltar.
Esse filme me faz sentir tudo ao mesmo tempo. Ele me lembra que a vida é um emaranhado de momentos que não podemos apagar, mesmo quando queremos. Que a dor faz parte, que a saudade é prova de que algo foi especial. Eu saio dele com o peito pesado, mas também cheio de amor, porque ele me ensina que a beleza da vida está justamente na imperfeição, no que não podemos controlar.
Quando Joel diz: "I could die right now, Clem, I'm just... happy." É uma frase tão simples, mas que carrega uma profundidade imensa. Ele não está falando de um amor idealizado ou de uma felicidade permanente, mas de uma aceitação plena do momento. Ele poderia morrer ali, sem arrependimentos, sem desejo de mais nada, porque naquele instante ele finalmente estava em paz consigo mesmo e com o que estava vivendo. A beleza disso está justamente no fato de que a felicidade não precisa ser eterna para ser real e significativa. Às vezes, o que mais importa é ter a coragem de se entregar a um momento e, ao fazê-lo, perceber que isso já é suficiente, que a verdade do que sentimos não precisa de mais nada além do agora. E, ao assistir a essa cena, sinto uma liberdade imensa. A ideia de poder ser feliz com a simples presença, sem a necessidade de garantir um futuro, sem pressa, é uma das lições mais poderosas que esse filme me deu.
Se eu pudesse voltar à primeira vez, sentir aquela emoção crua, aquele impacto, eu faria isso sem hesitar. Mas ao mesmo tempo, acho que parte do encanto está em lembrar, em carregar essas memórias comigo. Porque, assim como Joel e Clementine, eu sei que o amor não precisa ser eterno para ser inesquecível.
Before Sunrise
Antes de tudo, Before Sunrise é como uma conversa que eu nunca quis que acabasse. É uma daquelas histórias que te pega pela mão e te leva para um lugar onde o tempo parece parar, como se o mundo lá fora deixasse de existir enquanto duas pessoas simplesmente... se encontram. Não há nada mais bonito do que isso: o ato puro de se encontrar em alguém.
O que mais me impressiona é como Jesse e Céline têm uma conexão tão intensa que parece que eles já se conheciam antes mesmo de trocarem uma única palavra. Eles falam sobre o universo, sobre o sentido das coisas, sobre o que os move, antes mesmo de saberem o básico um do outro — como sobrenomes ou onde vivem. Como pode alguém abrir tanto o coração para um quase estranho? É essa vulnerabilidade que me deixa sem fôlego.
Eles compartilham pensamentos e sonhos como se o tempo não importasse, e talvez seja exatamente porque sabem que o tempo que têm juntos é finito. Há algo mágico nisso, algo tão raro: a liberdade de se entregar completamente ao momento porque não há promessas, não há expectativas além daquela noite. E isso, de alguma forma, faz com que cada palavra, cada olhar, seja ainda mais significativo.
Eu acho fascinante como o filme captura algo que muitas vezes tentamos colocar em palavras, mas nunca conseguimos: aquele sentimento de conexão genuína, quase espiritual, que às vezes temos com alguém. Não é sobre aparência, sobre status ou sobre onde você está na vida. É sobre encontrar alguém que, por algumas horas, parece entender cada parte de você. Alguém que vê as coisas do mesmo jeito que você, ou de um jeito diferente, mas que ainda assim faz sentido.
Há momentos em que Jesse e Céline falam sobre coisas tão simples, mas que parecem tão profundas, como se cada frase fosse um pedaço de quem eles são. É como se estivessem tirando as camadas um do outro, pouco a pouco, sem pressa, mas com uma curiosidade infinita. E enquanto eu assistia, eu sentia como se estivesse lá, andando por Vienna com eles, ouvindo cada palavra, me perdendo no mesmo encanto.
O que mais me toca é como eles se permitem ser quem são, sem medo, sem máscaras. Eles falam sobre medos, esperanças, amores passados, a vida, a morte, o tempo... tudo isso sem precisar impressionar, sem fingir. Eu fico pensando como seria incrível se todas as nossas conexões fossem assim: tão reais, tão despretensiosas, tão livres de julgamentos.
Quando a noite acaba, é quase doloroso. Eu queria que eles tivessem mais tempo, que a conversa não precisasse parar. Mas, ao mesmo tempo, talvez seja isso que faz a história tão especial. Não é sobre o "felizes para sempre". É sobre aquele instante, aquele encontro único que muda tudo, mesmo que só por uma noite.
*Before Sunrise* me fez lembrar que as conexões mais verdadeiras não precisam durar para sempre. Elas só precisam ser genuínas. E isso, só isso, já é suficiente para transformar uma noite em algo eterno.
Bones and All
Eu assisti *Bones and All* e senti meu coração ser consumido aos poucos, como se cada cena fosse me devorando com delicadeza e brutalidade ao mesmo tempo. Maren e Lee não são só personagens; são espelhos distorcidos de tudo o que é difícil aceitar sobre nós mesmos. Eu senti a fome deles como se fosse minha. Não era só sobre carne, era sobre pertencimento, sobre ser visto em toda a sua monstruosidade e, mesmo assim, ser amado.
É estranho pensar que o amor pode nascer no espaço entre o medo e a aceitação, mas *Bones and All* me mostrou que é exatamente aí que ele vive. Amar alguém de verdade é tão visceral quanto devorar. É aceitar tudo, até o que dói, até o que não entendemos. E isso me assusta, porque quem está preparado para ser consumido por inteiro? Quem está pronto para entregar seus ossos e ainda assim permanecer?
O vazio das paisagens no filme me engoliu. Aquelas estradas infinitas, os céus que nunca parecem acabar. Eu me senti pequena diante da vastidão, mas ao mesmo tempo entendi o que Maren e Lee buscavam. Não era um lugar físico, era um lugar dentro um do outro, onde poderiam existir sem vergonha, sem medo. Porque, às vezes, o mundo não tem espaço para quem somos de verdade, mas outra pessoa pode ser esse espaço.
E então, o título — Bones and All. Eu fico pensando no que significa se entregar completamente, sem deixar sobrar nada. Eles não guardaram partes de si; não houve reservas. E isso me tocou de um jeito que eu não consigo explicar. Porque, no fundo, é isso que todos queremos, não é? Ser aceitos em nossa totalidade, até o que é feio, até o que não conseguimos mudar.
Esse filme não tem medo da escuridão. Ele te força a olhar para o lado que você evita, mas de uma forma tão íntima que não parece errado. Eu senti que, mesmo na brutalidade, havia amor. Um amor que não promete finais felizes, mas que é tão verdadeiro e tão humano que é impossível desviar o olhar.
Eu saí desse filme carregada, como se ele tivesse deixado marcas nos meus ossos. Ele me fez sentir que ser humano é uma contradição constante: uma fome que nunca passa e, ao mesmo tempo, a beleza de ser insaciável. Maren e Lee não tentaram ser menos do que eram. Eles apenas se entregaram, um ao outro, ao mundo, ao momento. E isso, talvez, seja o mais assustador e bonito de tudo.
before sunrise me moldou como pessoa não existe uma eu antes desse filme
Brilho Eterno mudou minha vida. Esse filme é tanto, em tantas camadas. Faz uma lista no letterboxd! <3