Não é sua sombra que te assusta. É sua luz.
Eu quero ser tanta coisa, que às vezes tenho medo de acabar sendo nada
Existe uma frase em latim que eu tenho pensado sobre quem eu tô escolhendo ser no mundo: “Esse quam videri”, que significa ser, e não parecer.
E, quanto mais eu penso nisso, mais eu percebo que o que realmente assusta a gente não é a nossa sombra. É a nossa luz.
É perceber o tamanho que você tem. O tanto de coisa que existe aí dentro, o quanto você é capaz de fazer, de criar, de ser, de transformar — e o quanto você mesma foi ensinada, a vida toda, a se encolher disso.
E é doido pensar que o medo nem sempre mora no fracasso. Às vezes, ele mora exatamente no oposto — no sucesso. Na possibilidade real de se tornar tudo aquilo que você sonha. De sustentar sua potência no mundo sem se esconder, sem abaixar o tom, sem se desculpar por isso.
Só que aí entra um outro medo, ainda mais difícil de nomear — que é aquele pensamento que sussurra no fundo da cabeça: “Eu quero ser tanta coisa, que às vezes tenho medo de acabar sendo nada.”
E isso pesa. Isso paralisa. Porque existe uma cobrança constante, quase invisível, de que você tem que escolher um caminho, um rótulo, uma versão só de você pra apresentar pro mundo. Como se ser muitas coisas ao mesmo tempo fosse errado, fosse sinal de indecisão, de falta de foco, de imaturidade.
E assumir isso, se permitir ser, é muito mais desconfortável do que a gente imagina. Porque não é só sobre você. Quando você escolhe ocupar seu espaço por inteiro, quando você decide se mostrar inteira, sem disfarces, sem versões mais fáceis de engolir, isso acende alguma coisa no outro também. E nem todo mundo vai saber o que fazer com isso.
Só que o contrário também acontece. Quando você se dá permissão pra ser tudo isso, sem se desculpar, sem se esconder, sem pedir licença, você automaticamente libera espaço pra que outras pessoas façam o mesmo. Porque quando alguém se escolhe de verdade, ela se torna meio que uma permissão viva. Um lembrete de que é possível. De que você não precisa se apagar pra caber, não precisa se diminuir pra ser aceita, não precisa se esconder pra ser amada.
O que a gente não percebe é que, quando uma pessoa escolhe acender a própria luz, isso não apaga a de ninguém. Na verdade, ela ilumina. Ela abre caminho. Ela mostra pras outras pessoas que elas também podem fazer isso. E isso muda tudo.
Só que é muito mais confortável se esconder. Ficar pequena. Ficar no conhecido. Ficar no seguro. Ficar no lugar em que você não arrisca, não se expõe, não é julgada, não é mal interpretada. Só que esse lugar também é apertado, sufocante, e chega uma hora que não dá mais pra fingir que tá tudo bem ali.
Existe uma diferença muito real entre caber e pertencer. Caber exige esforço. Exige que você se molde, que você esconda partes de você, que você se acomode num espaço que não foi feito pra quem você realmente é. Pertencer não exige nada disso. Pertencer é quando você simplesmente é. E mesmo assim fica.
E, na real, não tem como viver metade da vida. Não tem como escolher se esconder e, ao mesmo tempo, querer se sentir plena, inteira, viva. Não tem como escolher se diminuir pra não incomodar e, ao mesmo tempo, querer se sentir realizada, alinhada, feliz. Uma coisa exclui a outra.
E quando você entende isso, não tem mais como desentender. Porque você percebe que não se trata só de você. Que se permitir ser tudo o que você é — inteira, intensa, contraditória, sensível, gigante, maravilhosa, bagunçada, brilhante — não é um ato egoísta, não é sobre provar nada pra ninguém, é sobre se liberar e, sem querer, liberar o outro também.
Não é sua sombra que te assusta. É sua luz.
E a luz assusta não só a nós mesmos, como aos outros também. Por isso as vezes se torna muito difícil sustentar e reafirmar constantemente isso pra um mundo (pessoas) que muita vezes prefere que você não seja, pra que eles não precisem olhar pra sí mesmos
A autenticidade é uma fagulha que faz o outro queimar também.