Se eu fosse um sentimento, eu seria nostalgia. Aquela sensação agridoce que mistura saudade e encanto, uma saudade que nem sempre é fiel aos fatos, mas que idealiza e colore o passado com uma aura quase mágica. Durante muito tempo, eu não compreendia o motivo de sentir isso com tanta intensidade: essa saudade idealizada e, muitas vezes, irreal por todos os momentos vividos, acompanhada de um desejo sentimental de regresso. Era como se o coração insistisse em sussurrar histórias do que foi, mesmo que os detalhes já estivessem borrados pelo tempo.
A nostalgia me visitava como uma brisa morna, trazendo memórias de risos em dias de sol, de conversas que não terminaram, de olhares que deixaram marcas. Mas também trazia a sensação de um vazio, uma lacuna entre o que foi e o que é. Por que essa ânsia de revisitar o passado? Por que essa necessidade de me ancorar em lembranças de momentos felizes e antigas relações? Por muito tempo, pensei que essa sensação fosse uma espécie de prisão, uma resistência a seguir em frente. Até que percebi: a nostalgia é também uma forma de me reconectar comigo mesma, de reconhecer as camadas que moldaram quem sou hoje
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A vida, afinal, é uma constante oscilação entre a ânsia de ter e o tédio de possuir. Muitas vezes, nessa busca incessante por algo que nem sabemos nomear, negligenciamos o que está bem diante de nós. Nos desconectamos do momento presente, perdemos a chance de sentir a textura da vida acontecendo agora. Mas a nostalgia, com toda a sua doçura melancólica, me ensinou algo precioso: a importância de olhar para o passado sem viver nele. De aceitar que, embora o passado já tenha cumprido seu papel, ele deixou em mim um eco, uma marca que pulsa discretamente no presente.
Aprendi que o presente – esse instante fugaz que se desenrola enquanto escrevo estas palavras – é a única coisa que existe. O passado é uma lembrança; o futuro, uma promessa incerta. Tudo o que tenho é agora: eu, você e este momento. E quando penso nisso, percebo que o presente é como uma alquimia. Um lugar onde o que fomos e o que seremos se encontram, se misturam, se transformam. E, nesse lugar, descubro que a nostalgia não é inimiga do agora. Pelo contrário, ela é uma ponte. Uma ponte que me lembra que o passado foi bonito, mas que o presente tem a beleza de ser real.
“Eu vou ter tanta saudade de mim quando morrer.” Essa frase da Clarice Lispector ressoa fundo em mim, porque sinto que, no fundo, a nostalgia é isso: uma saudade de quem somos enquanto vivemos. Talvez a maior nostalgia seja pela nossa própria existência, pela versão de nós mesmos que estamos sendo agora, tão efêmera e tão cheia de vida. Existe algo profundamente humano em sentir saudade do que somos, como se soubéssemos que cada instante é insubstituível. E essa consciência é o que torna o presente tão precioso.
Existe uma magia no agora que a nostalgia me ajuda a perceber. Porque quando olho para trás com carinho, também aprendo a olhar para o momento presente com mais ternura. Eu aprendo que não preciso desejar o regresso. Não preciso me prender a um tempo que não volta. Posso, ao invés disso, viver este instante com a mesma intensidade com que vivi aqueles que hoje guardo com tanto amor.
O presente é a única matéria-prima que temos para construir memórias futuras. E, ao entender isso, percebo que viver é um eterno ato de transformação: transformar saudade em gratidão, ausência em aceitação, memórias em inspiração.
E assim, danço com a nostalgia. Não como quem olha para trás em busca de algo perdido, mas como quem aprende a enxergar a vida inteira – o que foi, o que é e o que ainda será – como uma obra em construção. Uma obra que carrega em si a beleza de ser imperfeita, de ser humana, de ser viva.
Incrível como esse texto trouxe uma paz incessante! (Se esse texto fosse um livro eu consumiria em horas, pq o tanto de parte que eu "marquei" não está escrito! Mt bom de vdd!)
isso foi tao.... reconfortante